Torre Malakoff, Torre de Hölderlin

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Thiago Pininga e Fernando Monteiro durante o Festival Internacional de Poesia do Recife. Foto: Luiza Falcão

Conversávamos antes sobre a origem da Torre Malakoff, sua construção tão sem sentido ali no Recife, mas sentida por uma população distante de um lugar distante e gelo sendo derretido por canhões…

Invertendo a pergunta do poeta Roberto Piva, “E para que ser poeta em tempos de penúria?”, comecei perguntando a Fernando Monteiro (que havia incluído esta mesma pergunta no livro Mattinata) esta outra: “E para que leitores de poesia em tempos de penúria?”.

Friedrich Hölderlin, poeta alemão, foi o primeiro a fazer aquela pergunta ancestral – em um instante descobre o rompimento entre poesia e profecia, divindade e poeta, que caminhavam juntas na antiguidade. Ou nos versos de Hölderlin:

Mas nós, amigo, chegamos demasiado tarde. Certo é que os deuses vivem, / Mas acima de nós, lá em cima, noutro mundo. / Aí o seu domínio é infinito e parecem não se importar /Se estamos vivos, tanto nos querem poupar./ Pois nem sempre pode um frágil vaso contê-los,/ O homem apenas algum tempo suporta a plenitude divina. / Depois toda a nossa vida é sonhar com eles. Mas os erros, /Tal como o sono, ajudam, e a necessidade e a noite fortalecem,/ Até que haja suficientes heróis, criados em berço de bronze,/ De coração corajoso, como dantes, semelhantes aos Celestiais./ Depois eles chegam, trovejantes. Entretanto penso por vezes/ Que é melhor dormir do que estar assim sem companheiros,/ Nem sei perseverar assim, nem que fazer entretanto,/ Nem que dizer, pois para que servem poetas em tempo de indigência?/ Mas eles são, dizes, como sacerdotes santos do deus do vinho/ Que em noite santa vagueavam de terra em terra. (Tradução Maria Teresa Dias Furtado.)

Conversávamos agora sobre a origem da Torre de Hölderlin, sua construção tão sentida ali na Alemanha, e também sentida por uma população distante de um lugar distante e gelo sendo derretido por canhões… diálogos, recitais…

No Festival Internacional de Poesia do Recife a Torre Malakoff naquela noite era a Torre de Hölderlin: “Para que servem poetas em tempos de indigência?”, “e para que ser poeta em tempos de penúria?”, “para que leitores de poesia em tempos de penúria e indigência?”.

E para que poesia em qualquer tempo?

por Thiago Pininga.

Foto de capa: Escadaria da Torre Malakoff por Morisa Menezes

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