resenha: Zeca Viana – Psicotransa

 photo capazeca02_zps7672dc41.jpg
Arte: Liana das Neves

O último álbum de Zeca Viana, Psicotransa (2013), gravado na Casa do Mancha, em São Paulo, com produção de Diogo Valentino, é um exercício musical que impõe uma marca estética que deixa poucos espaços para surpresas. Zeca e os músicos que o acompanham têm domínio da situação. A consagrada experiência do músico em gravações caseiras e como músico da Volver, Rádio de Outono e Labirinto, deu-lhe a maturidade necessária para que o seu segundo disco tivesse esse acabamento. O ordenamento das faixas e, consequentemente, os temas abordados nas letras revelam o quanto o músico tem o álbum nas mãos, por assim dizer. Nada soa fora do espaço, estranho. As canções compõem um grande quadro homogêneo. O tratado sonoro sobre a existência está à vista nas músicas “Coração Etéreo Modular”, “Quintal Atemporal”, “Metafisica(mente)”, e “Quintal Sideral”. Nelas, há um embate entre o eu e o universo, presente nas letras, mas que pouco surpreende sonora e esteticamente.

Por outro lado, “Hey Mister Trouble Boy” aponta para outros caminhos, numa união (talvez improvável) de The Smiths e The Beatles, com as vozes recriando timbres e os solos de guitarra menos contemplativos, decerto a par do clima etéreo que predomina no disco, mas sim na crueza e simplicidade característica do rock. O arranjo de “Monstrolândia” segue esse caminho, e abre na letra um cenário de referências artísticas que ampliam as possibilidades de leitura do disco como um todo, ou ainda como Zeca Viana espelha a sua música nas diversas expressões artísticas.

As canções de Psicotransa dizem menos que o potencial e amadurecimento artístico que Zeca Viana alcançou. O resultado dos arranjos e letras soa repetitivo, sobretudo no corpo de canções que destaquei no primeiro parágrafo. No entanto, as canções exceção e os pequenos brilhos inventivos que subvertem a coesão do álbum (como um todo) valem a sua audição, bem como uma volta às incertezas das experiências lo-fi. Talvez seja essa a minha “sentença crítica”, o disco é feito de certezas. Sinto falta das incertezas. Do que na arte é provocação, improviso, dúvida.

por Carlos Gomes.

Categorias

Carlos Gomes Escrito por:

Escritor, pesquisador e crítico. É editor dos projetos do Outros Críticos, mestre em Comunicação pela UFPE e autor do livro de contos "corto por um atalho em terras estrangeiras" (2012), de poesia "êxodo," (CEPE, 2016) e "canto primeiro (ou desterrados)" (2016), e do livro "Canções iluminadas de sol" (2018), um estudo comparado das canções do tropicalismo e manguebeat.

seja o primeiro a comentar

    Deixe um comentário

    O seu endereço de e-mail não será publicado.

    Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.