PAPERBAG #1 com REGINA PHALANGE

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Paperbag é uma série de entrevistas que omite a real identidade dos entrevistados para que o leitor se atenha – em primeira instância – ao conteúdo das respostas sem associá-las diretamente a alguma pessoa ou contexto, com isso cada entrevistado é convidado a escolher seu próprio codinome e algumas palavras são suprimidas. Todo mês entrevistaremos uma personalidade pública de relativa relevância e atuação na cadeia produtiva musical local e nacional.

Espero que o resultado final deste primeiro ano de coluna não se resuma apenas a um jogo de adivinhação.

Qual sua história pessoal como ouvinte de música? E qual o último grande disco ou música que escutou?

Tenho música na vida desde muito pequena, por influência do meu pai sempre tive contato com o mundo artístico. Então, sempre rolava muita coisa, muita gente conhecida ia lá pra casa… de Gilliard a Reginaldo Rossi… de Roberto Carlos a Agepê. Até que a pessoa vai crescendo e descobrindo outras coisas, formando seu gosto musical. Sempre gostei de rock e música eletrônica. O primeiro grande disco que comprei (com minha suada mesada) foi o Mellon Collie and the Infinite Sadness, do Smashing Pumpkins. Tenho ele até hoje e morro de ciúme. Mas atualmente eu não tô muito ligada em álbuns, mas o Daft Punk sempre é muito foda, principalmente depois da oportunidade que tive de ir a um show deles… foi um dia inesquecível. Gosto principalmente do Human After All, todas as faixas são muito fodas e não consigo escolher uma.

O funk e o brega estão em um mesmo patamar de importância cultural que o axé e o sertanejo universitário?

Rapaz, eu acho que estão no mesmo patamar, vejo todos em um mesmo nível, sendo que em diferentes cenários. O país é grande demais e se você for analisar onde cada um influencia quem, chega a um mesmo denominador. Logicamente, em diferentes intensidades, devido às “máquinas”, gravadoras, empresários e o escambau que tem o poder de maximizar ou minimizar cada um na esfera total.

Então o rock e a música eletrônica, por exemplo, também entram em um mesmo patamar de importância cultural que esses gêneros…

Rapaz, isso de importância eu acho que vai de cada um, não sou nenhuma estudiosa de música para separar cada segmento por importância. Música é musica. Conheci um cara uma vez, super humilde, da periferia, que odiava brega e funk, mas adorava jazz. Achei surreal, sem entender de onde ele tinha descoberto Chet Baker naquele mundo que ele vivia, mas aí ele falou: “Internet tá aí, né?”. Acho muito pequeno julgar a importância de um segmento, sem saber o público que estamos falando. Música é música.

Existe vida inteligente na noite da sua cidade? Ela está predominantemente no barzinho, no show ao vivo ou nas festas?

Existir, existe. Mas [nome da cidade do entrevistado] vive as fases muito bem vividas, eu acho. Já teve a fase dos shows, já teve a fase dos clubs e agora tem a fase das festas. Eu conheço muita gente massa e boa, com ideias incríveis, mas que tem “preguiça” de botar pra funcionar, sabe? Querem que alguém chegue com a grana pra eles fazerem e só reclamam dos produtores que fazem qualquer outra coisa que não esteja dentro dos seus ideais. Né foda? Eu queria uma festa na praia, de graça, tirei do meu bolso, fui e fiz. Por que tu também não faz? É muito fácil apontar e ficar reclamando: “Porra, esse [nome da festa do entrevistado], que festa merda, que imbecilidade…”. Então faz o teu, dá outra opção pra galera. Mãos à obra, sabe?

Mas tu tava perguntando de produtor ou público?

De público também…

Rapaz, quanto ao público é muito difícil falar. Falo pelo público da minha festa ou de amigos que também fazem festas. O povo investe naquilo que gosta, né? Mas sinto a galera cada vez mais exigente com serviços, do que com música em si. O meu público vive numa vibe carnaval todo fim de semana, se a gente decide fazer um som mais “sério”, digamos assim, a pista não funciona e se a pista não funciona, a festa morre. Muita gente vai pra qualquer canto só pra não ficar em casa, vai onde a maioria vai. Mas tem gente que vai só no que gosta mesmo, pra se divertir e gastar o dinheiro “bem gasto”, digamos assim. Consegui responder? Achei difícil essa (risos).

Por que a música suburbana ainda choca quando é ouvida por determinadas pessoas que estão fora do gueto?

Justamente porque elas estão fora do gueto. Para mim, é muito claro essa historia de você estar inserido naquilo e saber o significado daquilo ou você não estar inserido naquilo, mas cantarolar ‘vou passar cerol na mão’ (referência ao funk do Bonde do Tigrão) só porque passou no Faustão, sem nem saber o que porra é. Da mesma forma, vejo o contrário, uma Pepê e Neném da vida, tão ali na favela, pegam uma música gringa e cantam um embromol danado, sem nem ter ideia do que aquela música tá falando. São os contextos, mas a partir do momento que essa galera da indústria vê um potencial e passa a explorar, pouco importa letra, coreografia ou qualquer outra coisa.

“O brega virou cult”. Pra você, o que significa essa frase?

Rapaz, eu nunca sei direito o que pensar quando eu leio isso. A galera fica querendo encontrar um equilíbrio entre o conceitual e o que é divertido, sei lá… teorizar demais, transformar em fenômeno. Sempre rolou, sempre existiu.

O que o artista autoral do local onde você vive precisa fazer para figurar no setlist das suas discotecagens?

(risos) Tem que me mandar (as músicas) pra eu poder conhecer. Se eu achar que funciona numa pista, toco na hora. Eu trabalho com festas, então dependo muito da pista pra poder tudo funcionar, desde a história de uma foto bonita, até as vendas do bar, lógico. A gente sempre experimenta coisas novas e é assim que geralmente surgem os “clássicos” de cada festa,mas de uma forma geral, tem que funcionar na pista, nem que seja para o momento “vou no banheiro” ou ” vou pegar uma cerva”.

Esses momentos são pensados quando se cria um setlist?

Na verdade a gente nunca faz setlist. Falo isso por mim e pelos DJs que são meus parceiros. A gente vai sentindo na hora, tem festa que a pista demora a pegar, tem festa que já começa bombando e a partir daí a gente vai subindo ou descendo. Lógico, por exemplo, numa noite de [nome da festa do entrevistado], a gente sabe como começar, quem começa tocando, mas dependendo da desenvoltura da galera, a gente vai mudando e aí não tem muito como planejar, é um eterno se vira nos 30 (risos). A intenção é sempre proporcionar a melhor festa das vidas das pessoas e nisso a gente não foca numa mega estrutura com fogos e raio lazer, a gente sabe que as pessoas vão nas nossas festas pelas músicas, pela pesquisa de cada um, que é totalmente diferente. [nome do DJ] gosta de peso, eu gosto do que é mais pop, por exemplo. E a galera já sabe o que esperar, mesmo não sabendo qual é o setlist. A partir disso a gente vai desenvolvendo. E a conexão que rola ali e cima (das pickups) é sempre incrível. Tem dia que a gente acaba a festa e fala: “Porra! Hoje foi massa!”.

Se você pudesse citar apenas um músico/banda contemporânea que melhor define as festas que você promove, quem/qual seria? Por quê?

Porra, posso dividir? Eu citaria Felipe Cordeiro… ele é foda, frenético e define bem o clima.  Posso citar Baby do Brasil com essa volta, ela veio com a porra, redondinha, incrível. E sempre o DJ Magal, o cara que mais sabe o que fazer por trás de uma cabine, seja hip hop, electro, Techno, disco… foi música eletrônica, ele é o cara.

As festas que você promove são uma riqueza cultural ou não passam de pão e circo?

(risos) Acho que um pouco de cada, senão fica chato demais e ninguém se diverte. Festa não é só farra e música não é só melodia.

por Rodrigo Édipo.

Fotos do personagem unknown comic.

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Rodrigo Édipo Escrito por:

Nascido e criado em Olinda (PE), fez mestrado em Ciências da Comunicação pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), membro do INCITI - Pesquisa e Inovação para as Cidades (UFPE), voluntário no movimento love.fútbol, fundador da Mi-Independente, colaborador no Outros Críticos e coletivo B U T U K A.

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