
Para quem curte uma boa noitada, Recife também é uma festa, diria um Ernest Hemingway, se vivesse hoje em dia por esses lados. A diferença é que quem procura fazer isso tudo ao som de uma banda autoral talvez encontre mais dificuldade do que quem se satisfaça com uma discotecagem que não fuja muito do óbvio.
A cidade passa por um momento no qual uma quantidade de boas bandas vem surgindo, mas as mesmas não encontram maiores espaços para tocar. Muitos desses grupos musicais têm que encarar certo desinteresse das casas de show (incluindo os espaços mais undergrounds) em fazer parcerias mais duradouras. Isso quando, na esmagadora maioria das vezes, as condições de estrutura oferecidas são próximas do zero e o preço de aluguel parece acompanhar o boom do mercado imobiliário país afora. Em compensação, festas com Djs munidos de seus espaçosos pendrives surgem a cada semana e estão abarrotadas de gente que se propõe a pagar até mais que o dobro que dariam para assistir ou comprar um trabalho de cunho autoral.
A prévia do festival No Ar – Coquetel Molotov, que aconteceu nessa última Terça-feira, no UK Pub, talvez tenha sido o ambiente para tentar se discutir essa questão. Inclusive, terça é o dia em que o UK faz as já conhecidas “Terças Autorais”, espaço um tanto quanto tímido para as bandas com material próprio – os outros dias da semana, como quinta e sábado, são dedicados a bandas covers.
A banda goianiense Boogarins foi a atração da noite. A princípio, é fácil fazer um paralelo com o neo-psicodelismo da australiana Tame Impala, seja pelas texturas spacey das guitarras, seja pelo timbre igualmente agudo de ambos os vocalistas. O grupo brasileiro compensa qualquer possível comparação com canções realmente boas, como na viajada “Erre” e a pegajosa “Lucifernandis”. O público presente parece ter curtido e se divertido da mesma forma que teriam caso tivesse rolando uma discotecagem.
Vale, então, salientar a importância para uma abertura maior de espaço para as bandas autorais daqui. Um lugarzinho chamado CBGB teve essa ideia perante uma certa cena musical novaiorquina do final dos anos 70. Então, não teriam as casas de shows também um papel fundamental na formação e fidelização de público para as bandas locais? Eis aí uma pergunta que provavelmente tem uma resposta mais óbvia do que se possa imaginar.
por Tiago Barros.
Capa do site – Foto: CBGB por J. Bailey
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