
A lua dele brilhou tal qual seu famoso e esperado figurino na noite de abertura do 23º Festival de Inverno de Garanhuns. A sabedoria e a performance com as quais Ney Matogrosso interpreta o show Atento aos sinais (que estreou em março deste ano) dispensam comentários. Mas arrisco: inacreditável o total domínio de si, do corpo e da intenção de estar no palco, mesmo após 40 anos de carreira.
De semblante sábio, olhos expressivamente maquiados com lápis preto, a cenicidade dele no auge dos 71 anos reflete exatamente a intenção das músicas apresentadas – conquistar. Clássicos como “Vida Louca Vida”, de Lobão e Bernardo Vilhena, “Ex-amor”, de Martinho da Vila (escolhida para fechar a noite) e a recente “Freguês da meia noite”, do rapper Criolo, foram executadas com a mesma dose de entrega.
Sempre atento, Ney deu uma aula de segurança no movimento do corpo. E ele segue rebolando durante todo o seu show. “Agora vou ali atrás trocar de roupa e já volto”, disse, quando fez a mudança de figurino em pleno palco, arrancando óbvios gritos da plateia, que pouco interagiu com o repertório.
Mesmo mais quieto, o público estava concentrado na apresentação, que contou com canções como “Samba do Blackberry”, de Tono – um singelo protesto contra a vida ‘high tech’, e “Tupi Fusion”, de Vítor Pirralho, apresentada junto a projeções indígenas nos três telões verticais que compuseram o econômico cenário.
A banda que acompanha o cantor é igualmente primorosa. Felipe Rosseno e Marcos Suzano na percussão, Everson Moraes no trombone, Aquiles Moraes no trompete, Maurício Negão na guitarra, Dunga no baixo e Sacha Amback no teclado e direção musical criam e acompanham a atmosfera hipnótica, que faz jus ao nome do show.
Foto de capa: Renata Pires/Secult/Fundarpe
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