merda poesia eu boto a maior fé

“No Texas” apresenta uma série de shows de músicos pernambucanos no Edf. Texas, no Pátio do Santa Cruz, resultando na gravação de programas e EPs. A estreia foi com Aninha Martins. As próximas edições serão com Projeto Sal, Juliano Holanda, Desalma, Rua e Bongar. A programação pode ser conferida na página do evento.

  1. a voz já não é o assunto principal da música de aninha martins.
  2. o corpo mobiliza as energias entre braços, pernas, olhos, tronco; velocidades e rítmicas entre a sutileza e a violência, o drama e a poesia – a narratividade de algumas das canções e em outras seus cortes como versos-lâminas.
  3. a voz é desviante, está para o corpo no que alcança o grito, a estridência e o caos; a sutileza melódica e fraseado de quem canta canção como quem morde os lábios até sangrar – imagem poética à-la esquartejada.
  4. os músicos tal qual corpo de baile se alimentam de sua poética. os arranjos extrapolam a própria canção, no que se poderia pôr de limite na relação entre letra e música, e ocupam muito mais espaços; por um desejo épico, soam grandiosas, como pedras que rollam, ao mesmo tempo em que a melodia esboçada pela flauta propõe uma fresta de delicadeza – liquidez de leite ante a espessura e o significado do sangue.
  5. ser duplamente no texas invoca mais forças à potência criativa que a música de aninha reverbera: a sua luta diária por essa arte; por isso, a voz cantar cantora se amplia para um corpo voz estética e política.
  6. cantar entre ruínas é pôr em evidência a construção diária que artistas e produtores tentam levar a cabo entre os recifes e seus espaços de sombra e luz.
  7. volta monroe, teatro do parque, a casa do cachorro preto.
  8. quase cabaré teatro do absurdo nonsense útero queda estilhaçamentos trituras vísceras expostas expostas e aquele sorriso tenro de quem se desmancha no aplauso final.
  9. eu boto a maior fé em quando se dá o encontro entre violência e delicadeza, faca e corte profundo; poesia.
  10. merda!, poesia!, aninha martins e banda (rodrigo, hugo, aline, Iezu, vitor) que só cresce cresce espalha pra fora janela do texas parede pixo grafite e vox.

Foto: Pedro Escobar

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Carlos Gomes Escrito por:

Escritor, pesquisador e crítico. É editor dos projetos do Outros Críticos, mestre em Comunicação pela UFPE e autor do livro de contos "corto por um atalho em terras estrangeiras" (2012), de poesia "êxodo," (CEPE, 2016) e "canto primeiro (ou desterrados)" (2016), e do livro "Canções iluminadas de sol" (2018), um estudo comparado das canções do tropicalismo e manguebeat.

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