Lu e César – Ouça de Fone

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o saudoso e brilhante poeta ericson pires dava ao encontro um valor de ato criador, nele, no encontro de corpos voa e de mundos, realizamos o outro e também a nós mesmos nesse espaço que está sempre em movimento, sem um lugar temporal definido para repousar. nada mais representativo do resultado dessa arte de criar encontros que o recém-lançado disco de dois grandes compositores mar-de-dentro da canção nacional: luiza brina e césar lacerda.

ao sabor do sol

                             em tormenta

ouça de fone (2013) (que contou com as colaborações essenciais de raquel pinheiro, deixa ser responsável pela arte, e Guilherme marques, que se interessou pelo material, mixou e masterizou o som) foi lançado no jardim da mpb (após quatro anos guardado) depois de algumas conversas que tive com o césar cais e chão  sobre a necessidade de trazer à luz esse processo criativo – essa aventura e experimento do outro como nós mesmos que vai  canção  além do discurso multicultural fácil e hipócrita, que estava engavetado e que talvez lá permanecesse hibernando por tempo indeterminado –, tentando convencê-lo de que apresentar o resultado desse encontro, encontro enquanto ato criativo, era não apenas relevante, como também necessário.

ouça

é preciso lançar-se no mar, balançar entre ondas e rugir para o que vem, amar o que passou. amar o agora que se configura como relação com o que não volta mas aponta adiante. como dizia o poeta saudoso dali de cima: o amor brilha.

fone

de                      

em ouça de fone, poéticas são disparadas ao ar, capitaneadas por luiza e acompanhadas bem de perto por césar. não há uma hierarquia clássica, mas sim uma ondulação de forças que se fazem presentes e plurais, que atuam dissonantes  no campo difusor da palavra, do toque, da reconversão do meio onde se vive em um lugar onde as curvas da voz se proliferam feito verso inconstante de llansol e queimam o tecido-pele feito água viva.  ouvir de fone o mundo dos dois proporciona um mergulho na atmosfera construída com o intuito de poe mar quercus colagem, da mesma forma de um braque, na composição. ao invés de um material sólido, do pedaço de um objeto, há uma colagem de sugestões espaciais (o canto dos pássaros) e temporais (um trecho de clarice lispector) que escorregam nas dobras do ouvir, provocando fortes impressões de movimentação interna.

é preciso ouvir de fone                             pois há nuances

cores                                                               é preciso emergir

vozes

na esquina da voz

se encontram

                                                   onde                                    sintomas

ambos os cantautores possuem jeitos fortes e muito pessoais de fazer música. luiza tem a capacidade (ouvi certa vez luiz gabriel lopes dizer) de deixar qualquer música que ela interprete com ares irreconhecíveis, tamanha a singularidade poesia  de seu modo de cantar e compor. césar é um pensador da forma musical, escolhe caminhos desafiadores; mescla eletricidade e distorção a uma elegância e uma delicadeza ímpar. o resultado da junção dos sonhos e anseios dos dois é um craquelê inusitado. ouça de fone é já um referencial por se tratar de um  correr na pata leão  registro de comunhão de dois grandes compositores dessa geração, dois artistas que seguramente possuem muito a dizer e cantar.

 por Jocê Rodrigues.

 

Download gratuito disponível por Jardim da MPB.

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Jocê Rodrigues Escrito por:

Jornalista, escritor e poeta, autor dos livros "As Máquinas de Deus" (ed. Multifoco) e "Luna: o canto que também provoca maremoto".

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