Lançamento da coletânea O.N.I. – Objeto Não Identificado n’A Casa do Cachorro Preto

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Capa: Fernanda Maia

A música contemporânea de Pernambuco se caracteriza por apresentar diversas nuances. Algumas dessas formas são legitimadas pelas festas populares, festivais de música, editais promovidos pelo Estado, iniciativa privada e, de certo modo, pela cobertura jornalística privilegiada a alguns desses segmentos. A defesa de território é uma marca inerente à cultura do estado. No entanto, a internet trouxe à tona uma gama de criadores, seja na área artística ou crítica, que atuam de forma caótica para além do mercado oficial. Articular esse caos é tarefa tão engenhosa quanto a de criar uma música.

A coletânea Objeto Não Identificado* é resultado do encontro de diversos nichos de criação que, por motivos dos mais diferentes, atuam costumeiramente à margem do mercado. As músicas presentes na coletânea não são resultado de curadoria de algum jornalista, produtor ou crítico musical. Não houve votação pública para a escolha dos artistas. São bandas e músicos que simplesmente resolveram se unir para serem identificados em sua diversidade e continuarem lutando pela ocupação de espaços de escuta em Pernambuco.

O show de lançamento da coletânea será n’A Casa do Cachorro Preto. Cinco bandas presentes na coletânea foram escolhidas para se apresentarem, são elas: Jazzy Grind, Dunas do Barato, Matheus Mota, Jean Nicholas e Ex-Exus.

Claudio N. também estará presente na coletânea, mas ficará responsável pela discotecagem da festa (set autoral). O evento ainda contará  com Evandro Q? apresentando as bandas.

Completa o time de artistas presentes na coletânea, os músicos D Mingus, Marditu Soundz, Zeca Viana, German Ra, Enio HomemBorba, JuveNil Silva, Graxa e Aninha Martins.

Além das bandas, a coletânea também contou com a colaboração de José Juva (texto de apresentação), Fernanda Maia (projeto gráfico), Estúdio Base (masterização) e com o apoio d’A Casa do Cachorro Preto e da Rec-Beat Produções.

Carlos Gomes

 

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Projeto gráfico da coletânea: Fernanda Maia

Abdução & Improviso

Procedimentos físicos e psicológicos de complexidade não compreendida, fluorescências, memórias espalhadas pela chuva. O caminho do xamã é o caminho do coração. Muitas mamíferas & mamíferos deixam a visão chegar, apuram os ouvidos e amparam os corações lisérgicos do tempo, com sensibilidade paleolítica. Há várias músicas penduradas no varal, canções que se infiltram no tutano dos seres invisíveis. Há feitiços, deuses solares, lunáticos e mecânicos cobertos de graxa e bênçãos. Sons em espirais, miragens, dunas. Exu comunicando a sabedoria infantil dos grilos, num domingo aconchegante. Um trem de doido carregando sonhos. Narrativas oníricas costuradas entre o lugar e os corpos.

Grande parte dos rizomas da música contemporânea feita em Pernambuco é de objetos não-identificados: passam ao largo do radar das multidões, mas permanecem cavando territórios. Espécie de animal coletivo, você encontra esta música na vida: numa esquina, num banco de praça, num quarto de um edifício próximo da maresia, numa fila da padaria, conversando com um vendedor de picolé. As mãos do mercado/governo não costumam ousar no olho do furacão, no calor do processo, deitar atenção sobre som de vivos que ultrapassam as definições ligeiras e desorientam os costumes, os hábitos. Daí a importância e a vitalidade de deixar escapulir, num movimento de reunião e compartilhamento, as criações que a gente, quase sempre, encontra e descobre por acaso.

As canções presentes neste disco são registros de abduzidos, improvisos de filhos e filhas do rio da vida, grãos do abismo. Carregam a paisagem da aldeia da subjetividade e o ambiente ao redor. Debruçadas num mapa sideral, estas crianças desenham cenários e rotas insuspeitas, trilhas e sendas de iluminação e caos. Ouvindo estas músicas conheceremos um pouco mais do mar, do ar, do ventre, do vento, um pouco mais do tempo & espaço em que nos movemos; conheceremos um tiquinho das figuras envolvidas ao mesmo tempo em que aprenderemos outro tiquinho sobre nós mesmos: energia curativa da arte.

por José Juva.

SERVIÇO:

Lançamento da coletânea O.N.I. – Objeto Não Identificado

Domingo, 18.08, às 17h

A Casa do Cachorro Preto – Rua 13 de maio, 99 – Olinda -PE

ENTRADA GRATUITA

* A coletânea será vendida por R$ 10,00

Cartaz por Fernanda Maia.

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Outros Críticos Escrito por:

Desde 2008 atuam desenvolvendo projetos de crítica cultural na internet e em Pernambuco. Produziram livros e publicações, como a revista Outros Críticos, além de coletâneas musicais e debates, como os do festival Outros Críticos Convidam.

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