a dicção permanece em marcha circulando entre os temas ordinários que são suas canções. a sua fala-canto é essa dicção extra-ordinária, pois entre a voz, o piano e o texto, o mal-dito se torna visível a olhos nus. como o ordinário continuamente se desloca por sua dicção, é possível que suas composições continuem invisíveis para olhos menos acostumados aos mal-ditos. lá de lisboa, é o que ele nos conta de suas maldicções. (c.g.)
“‘Cadeira Vermelha’ brinca com o prazer das futilidades mesclando a condenação e a apologia, a hipocrisia e a revelação da verdade alternando seus lugares como numa grande roda da fortuna. Dependendo do humor no momento da apreciação da música, essa pode ser entendida de forma diferente. Poderia se chamar ‘A roda da fortuna’.”
“‘Maldito’ tem algo de interessante, “dizem”, é a primeira palavra usada na poesia. Como vivi a letra só percebi o que se passava pela boca dos outros, “Dizem que ando isso e aquilo”… A música parece ter algo de pessimista ou depressivo, mas o desenvolver melódico e harmônico encaminha-nos para um gozo. A música é cantada com prazer carnal em homenagem aos belos e sedutores vícios da existência. Sem culpa ou pedido de ajuda, apenas abraça uma melancólica loucura.”
“A música “Essa geração” escrevi quando ainda morava no Brasil dentro de um ônibus como muito das músicas que compus àquela altura. Como passava bastante tempo dentro dos coletivos aproveitava para escrever e me acalmar. O sentimento no exato momento era de urgência, algo para falar, expressar que não estava obtendo a devida atenção. Como praticamente todas as minhas músicas onde há letra, falo com o invisível, se muito fosse resumir, escrevo para o deus que adivinhamos em instinto. ‘As chagas perfumadas no meio de um transe’”.
Foto: Mariana Gama Creative Photography
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