A voz não é linguagem, ela é considerada por muitos, em alguns aspectos, um sine qua non da linguagem e base do discurso (reator da palavra-discurso). Michel Foucault sempre nos aponta as consequências de certas interdições discursivas que acompanham a voz, como a palavra do louco que, até o fim do século XVIII, não podia circular como a dos outros e, por isso, era deixada de fora do círculo de debates sociais e ainda hoje é interdita. Existir necessita voz…
Autor: Jocê Rodrigues
Jornalista, escritor e poeta, autor dos livros "As Máquinas de Deus" (ed. Multifoco) e "Luna: o canto que também provoca maremoto".
“A vida é uma história contada por um idiota, cheia de som e fúria, significando nada” – Shakespeare (Macbeth) uma quase-alergia à carne e uma angústia descomunal e poética. ao falar sobre mentiras e sobre os efeitos das palavras no aparelho subjetivo de cada um, Jair Naves desnuda discursos em E Você Se Sente Numa Cela Escura, Planejando A Sua Fuga, Cavando O Chão Com As Próprias Unhas (2012) e mostra um pouco da sua visão do mundo. depois do EP Araguari, Jair vai além e…
Em 1921, Paul Válery escreve “Eupalinos ou o arquiteto”, para a revista Architetures, onde aproxima filosoficamente música e arquitetura. O espectro do Sócrates valeryano discursa e dialoga com Fedro sobre como a música, da mesma forma que a arquitetura (ou vice-versa), nos envolve de forma completa, tomando-nos todos os sentidos. Elevando assim a arquitetura ao patamar de arte espiritual e diferenciando-a da pintura e da escultura. Reelaborando assim a hierarquia das artes até então vigente (como aponta Guilherme Wisnik). Motivo (2012), primeiro…
(um breve apontamento sobre o fazer crítico escritural) o trato com obras de arte, sim, pois acredito fortemente que a música seja de uma outra ordem que não a do puro entretenimento (ainda que também lhe caiba esse papel na medida em que não devore toda a potência da experiência estética frente à necessidade neurótica do receptor), merece atenção e cuidado. mesmo com todo um processo constante e inevitável de hibridação de linguagens nos diversos campos da arte, o fazer…
para Henry Bergson, criar exige intenso trabalho intelectual, que seja voltado à subversão do sistema representacional-ordinário em proveito da melhor adequação entre uma origem e seu destino. um movimento de constante tensão. assim se pode definir o ato criativo de Tom Zé, um dos maiores compositores e pensadores da forma musical em solo nacional. em sua música não há um esforço operacional para criar engrenagens e fazê-la funcionar, tudo funciona de acordo com as tensões criadas a partir de seus…
o saudoso e brilhante poeta ericson pires dava ao encontro um valor de ato criador, nele, no encontro de corpos voa e de mundos, realizamos o outro e também a nós mesmos nesse espaço que está sempre em movimento, sem um lugar temporal definido para repousar. nada mais representativo do resultado dessa arte de criar encontros que o recém-lançado disco de dois grandes compositores mar-de-dentro da canção nacional: luiza brina e césar lacerda. ao sabor do sol em tormenta ouça…
em 2003 a cena musical e artística belo horizontina foi convocada a se manifestar através do lançamento do álbum-manifesto “a outra cidade”, de kristoff silva, pablo castro e makely ka, agora é o poeta, músico e compositor alexandre frança quem homenageia e chama às armas toda a geração atual de curitiba no melhor estilo de uma brincadeira séria. a canção “a gente não tá de brincadeira”, autoria do próprio alexandre frança e que conta com a participação de uyara torrente e luiz…
meu último artigo para o outros críticos foi sobre o trabalho do iconili e nele eu apontei para algumas questões referentes à hipervelocidade, essa que nos devora e não nos permite assimilar toda a enchurrada de informação, útil e inútil, que nos atinge diariamente. hoje esse assunto insiste em dialogar comigo, mas dessa vez para contar sobre as fortes impressões que me causou o disco homens lentos (2013), da banda a fase rosa, que acaba de ser lançado e que…
o fazimento dessa escritura não deve ser científica, rígida (já que o seu objeto de estudo/análise se localiza, cartograficamente, no campo da arte). uma escritura que dialogue com seu objeto, que perpasse as sensações e pulsões da obra; que não tente conter ou catalogar desejos, mas que lhes empreste corpo, que lhes proporcione adensamento dar corpo musical-crítico é adentrar, habitar a obra é potencializar (caso haja) suas possibilidades inventivas através da ampliação do seu working space por que traduzir a…
(o caixão está vazio) o famoso pós-moderno não é um conceito tão bem explicado como costumam pregar nos círculos intelectuais e semi-intelectuais. o mais comum de se ouvir e ler é que o pós-moderno não acredita na crítica (já que o fato não existe mais a análise se torna obsoleta) não se trata (quando falamos sobre a morte do fato) da inutilidade crítica – já que ela, a crítica como a vejo, não visa uma imposição –, mas da utilidade…