Autor: Jocê Rodrigues

Jornalista, escritor e poeta, autor dos livros "As Máquinas de Deus" (ed. Multifoco) e "Luna: o canto que também provoca maremoto".

17 de junho de 2013 /

A voz não é linguagem, ela é considerada por muitos, em alguns aspectos, um sine qua non da linguagem e base do discurso (reator da palavra-discurso). Michel Foucault sempre nos aponta as consequências de certas interdições discursivas que acompanham a voz, como a palavra do louco que, até o fim do século XVIII, não podia circular como a dos outros e, por isso, era deixada de fora do círculo de debates sociais e ainda hoje é interdita. Existir necessita voz…

10 de junho de 2013 /

“A vida é uma história contada por um idiota, cheia de som e fúria, significando nada” – Shakespeare (Macbeth) uma quase-alergia à carne e uma angústia descomunal e poética. ao falar sobre mentiras e sobre os efeitos das palavras no aparelho subjetivo de cada um, Jair Naves desnuda discursos em E Você Se Sente Numa Cela Escura, Planejando A Sua Fuga, Cavando O Chão Com As Próprias Unhas (2012) e mostra um pouco da sua visão do mundo. depois do EP Araguari, Jair vai além e…

7 de junho de 2013 /

Em 1921, Paul Válery escreve “Eupalinos ou o arquiteto”, para a revista Architetures, onde aproxima filosoficamente música e arquitetura. O espectro do Sócrates valeryano discursa e dialoga com Fedro sobre como a música, da mesma forma que a arquitetura (ou vice-versa), nos envolve de forma completa, tomando-nos todos os sentidos. Elevando assim a arquitetura ao patamar de arte espiritual e diferenciando-a da pintura e da escultura. Reelaborando assim a hierarquia das artes até então vigente (como aponta Guilherme Wisnik). Motivo (2012), primeiro…

24 de abril de 2013 /

(um breve apontamento sobre o fazer crítico escritural) o trato com obras de arte, sim, pois acredito fortemente que a música seja de uma outra ordem que não a do puro entretenimento (ainda que também lhe caiba esse papel na medida em que não devore toda a potência da experiência estética frente à necessidade neurótica do receptor), merece atenção e cuidado. mesmo com todo um processo constante e inevitável de hibridação de linguagens nos diversos campos da arte, o fazer…

16 de abril de 2013 /

para Henry Bergson, criar exige intenso trabalho intelectual, que seja voltado à subversão do sistema representacional-ordinário em proveito da melhor adequação entre uma origem e seu destino. um movimento de constante tensão. assim se pode definir o ato criativo de Tom Zé, um dos maiores compositores e pensadores da forma musical em solo nacional. em sua música não há um esforço operacional para criar engrenagens e fazê-la funcionar, tudo funciona de acordo com as tensões criadas a partir de seus…

13 de abril de 2013 /

o saudoso e brilhante poeta ericson pires dava ao encontro um valor de ato criador, nele, no encontro de corpos voa e de mundos, realizamos o outro e também a nós mesmos nesse espaço que está sempre em movimento, sem um lugar temporal definido para repousar. nada mais representativo do resultado dessa arte de criar encontros que o recém-lançado disco de dois grandes compositores mar-de-dentro da canção nacional: luiza brina e césar lacerda. ao sabor do sol                              em tormenta ouça…

15 de março de 2013 /

em 2003 a cena musical e artística belo horizontina foi convocada a se manifestar através do lançamento do álbum-manifesto “a outra cidade”, de kristoff silva, pablo castro e makely ka, agora é o poeta, músico e compositor alexandre frança quem homenageia e chama às armas toda a geração atual de curitiba no melhor estilo de uma brincadeira séria. a canção “a gente não tá de brincadeira”, autoria do próprio alexandre frança e que conta com a participação de uyara torrente e luiz…

11 de março de 2013 /

meu último artigo para o outros críticos foi sobre o trabalho do iconili e nele eu apontei para algumas questões referentes à hipervelocidade, essa que nos devora e não nos permite assimilar toda a enchurrada de informação, útil e inútil, que nos atinge diariamente.  hoje esse assunto insiste em dialogar comigo, mas dessa vez para contar sobre as fortes impressões que me causou o disco homens lentos (2013), da banda a fase rosa, que acaba de ser lançado e que…

8 de março de 2013 /

há muita coisa, boa e ruim, sendo produzida e com uma velocidade impressionante (tentarei me manter no campo do debate musical). a cada semana surgem novos “salvadores” e “ícones” dos mais diversos estilos musicais; é muito rápido e confesso que não dou conta de tantos apocalipses. essa hipervelocidade de re/produção perturba, bombardeia nossos sentidos de informações que não conseguimos assimilar. a velocidade da internet passou a ditar o ritmo da vida também fora do ciberespaço e essa ditadura, assim como…

3 de março de 2013 /

o fazimento dessa escritura não deve ser científica, rígida (já que o seu objeto de estudo/análise se localiza, cartograficamente, no campo da arte). uma escritura que dialogue com seu objeto, que perpasse as sensações e pulsões da obra; que não tente conter ou catalogar desejos, mas que lhes empreste corpo, que lhes proporcione adensamento dar corpo musical-crítico é adentrar, habitar a obra é potencializar (caso haja) suas possibilidades inventivas através da ampliação do seu working space por que traduzir a…

19 de fevereiro de 2013 /

“A filosofia do candomblé não é uma filosofia bárbara, e sim um pensamento sutil que ainda não foi decifrado”. isso o antropólogo Roger Bastide escreveu em 1944 enquanto pesquisava o candomblé no Brasil (foi seu primeiro contato com o candomblé em terras nacionais). hoje em dia não podemos falar de uma decodificação das religiões africanas em nossa terra, mas sim de uma constante descoberta que se movimenta com as engrenagens da descoberta e invenção do homem. depois do primeiro registro,…

5 de fevereiro de 2013 /

(o caixão está vazio) o famoso pós-moderno não é um conceito tão bem explicado como costumam pregar nos círculos intelectuais e semi-intelectuais. o mais comum de se ouvir e ler é que o pós-moderno não acredita na crítica (já que o fato não existe mais a análise se torna obsoleta) não se trata (quando falamos sobre a morte do fato) da inutilidade crítica – já que ela, a crítica como a vejo, não visa uma imposição –, mas da utilidade…