As possibilidades do canto de Ana Ghandra

 

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Fotos: Camila van der Linden. Projeto Gráfico: Rodrigo Garcia

 por Carlos Gomes.

Vozes e cordas ganham corpo, novas cadências, realinham para outros arranjos os costumeiros voz-e-violão da música folk caracterizada pelas cordas de aço, harmonias enxutas e letras político-homéricas, no qual a figura do trovador tão bem cabe – aquele que ao cantar discursa, conta estórias. As canções lançadas hoje para download gratuito do EP Slowly, de Ana Ghandra, têm o violão de aço como cerne, mas passam ao largo de reproduzir esse estereótipo.

Gravado nos estúdios da AESO Barros Melo, as cinco faixas contam com os músicos Paes (baixo, guitarra, entre outros instrumentos), Cássio Sales (bateria e surdo), Márcio Oliveira (trompete) e Marina Silva (vocais) cercando a voz de Ana das maneiras mais diversas, seja no corpo dos arranjos que Paes concebe, nas sutilezas pontuais de Cássio e Márcio, sobretudo pelo solo de trompete na faixa que dá nome ao disco, ou ainda pelo vocal de Marina (Team.Radio) na citada “Slowly” e em “Radiosoul”, em que Ana declara: “Music is my only friend/ Until the end”.

Faço questão em, ainda que timidamente, destacar os arranjos e demais músicos que participaram do EP. Tudo isso por conta da força que faz com que a voz de Ana atraia quase que todas as atenções. Entre a audição dessas canções e a escrita, poucos dias se passam, com isso, a voz se impõe acima das interpretações possíveis, contextualizações, influências, gêneros musicais, diálogos ou o que quer que seja mais fácil de se agarrar para refletir em palavras o que a música dela transmite. Fica aqui esta impressão primeira, tímida e assombrada, da música que Ana, suas vozes e amigos, põem para audição a partir de hoje.

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Carlos Gomes Escrito por:

Escritor, pesquisador e crítico. É editor dos projetos do Outros Críticos, mestre em Comunicação pela UFPE e autor do livro de contos "corto por um atalho em terras estrangeiras" (2012), de poesia "êxodo," (CEPE, 2016) e "canto primeiro (ou desterrados)" (2016), e do livro "Canções iluminadas de sol" (2018), um estudo comparado das canções do tropicalismo e manguebeat.

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